A população de soteropolitana teve mais uma excelente opção cultural no período de 07 de abril a 05 de junho, com a abertura da visitação pública à exposição do artista Frans Krajcberg. A mostra, com 13 esculturas, oito relevos e 16 fotografias, marcou as comemorações dos 90 anos do artista, que é polonês, mas vive em Nova Viçosa, no interior da Bahia, desde o início da década de 70. A exposição ocorreu no Palacete das Artes Rodin Bahia. Alunos da Oficina de Fotografia ministrada pelo Prof Ricardo Fernandes, tiveram a oportunidade de apreciar essa exposição e concomitantemente conhecer um pouco sobre o fotógrafo Krajcberg.
Krajcberg comemora 90 anos com exposição em Salvador.
Realizada pela Secretaria de Cultura da Bahia, a exposição Grito! Ano Mundial da Árvore é composta por fotos, relevos, esculturas e quatro peças inéditas produzidas pelo artista no ano passado.
“A natureza deu-me a força, devolveu-me o prazer de sentir, de pensar, de trabalhar, de sobreviver. Quando estou na natureza, eu penso a verdade, eu
falo a verdade, eu me exijo verdadeiro”. A declaração de Frans Krajcberg - um dos artistas visuais mais importantes e polêmicos de sua geração - revela o caminho escolhido por ele para a construção de seu trabalho: fazer da arte um grito a favor do planeta. E é com esta mesma intenção que o artista polonês, que vive desde os anos de 1970 no município baiano de Nova Viçosa, traz a Salvador a exposição Grito! Ano Mundial da Árvore, mostrando à capital baiana o resultado de antigas e atuais criações.
Realizada pela Secretaria de Cultura do Estado, por meio da Diretoria de Museus do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (SECULT/DIMUS/IPAC), a mostra integra as comemorações dos 90 anos do artista e marca, ainda, a entrega de suas obras ao Governo, após ter assinado um termo de doação de todos os seus bens aos baianos. A exposição Grito! Ano Mundial da Árvore foi aberta dia 07 de abril, às 19h, na Sala Contemporânea do Palacete das Artes Rodin Bahia e pode ser visitada até o dia 05 de junho.
Artista que vive e trabalha entre milhares de espécies nativas, plantadas por ele mesmo em seu sítio, Krajcberg afirma que a idéia da exposição surgiu durante a manifestação “O Grito: Salvem a Amazônia”, promovida na comunidade de Nova Viçosa. “Toda obra que exponho em conjunto traz nela a minha revolta. Com a mostra, apresentarei a minha denúncia das destruições pelo fogo, praticadas pelos homens contra as árvores. Na exposição serão expostas 13 esculturas, 08 relevos e 16 fotos de árvores – quatro destas peças criadas no ano de 2010 e inéditas para o grande público.
As 37 peças estarão espalhadas por toda a sala contemporânea do Palacete das Artes Rodin Bahia. São esculturas de grandes dimensões, muitas feitas de cipó, e troncos de madeira queimada, retiradas diretamente de florestas onde houve depredação, além de relevos e fotos. Logo na entrada, na varanda que dá acesso às salas internas, estará uma de suas obras mais conhecidas: a Flor do mangue - escultura de grande porte construída a partir de resíduos de árvores de manguezais destruídos pela especulação imobiliária-, seguida de outras cinco obras maiores, que ocuparão as laterais da sala principal. Nos demais ambientes estarão os relevos e as fotografias.
Pintor, escultor, gravador e fotógrafo, Frans Krajcberg nasceu em 1921, na cidade de Kozienice (Polônia). Aprendeu artes e engenharia na universidade de Leningrado e continuou os estudos na Academia de Belas Artes de Stuttgart. Entre os anos de 1942 e 1945, tornou-se oficial do exército polonês durante a II Guerra Mundial – quando perdeu toda a família. Migrou para o Brasil em 1948 e, três anos depois, participou da 1ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1951, com duas pinturas. Em 1957 naturalizou-se brasileiro, mesmo ano em que conquistou o prêmio de melhor pintor nacional pela Bienal de São Paulo.
Os primeiros trabalhos ligados diretamente ao contato com a natureza foram produzidos entre os anos de 1958 e 1964, quando viveu entre as cidades de Paris, Ibiza e Rio de Janeiro. Por passar um tempo isolado, morando em uma caverna localizada no município de Itabirito, interior de Minas Gerais, ficou conhecido como “barbudo das pedras” – e não era pra menos: na época, ainda na década de 1960, tinha uma extensa produção de gravuras e esculturas em pedra.
Foi em 1964 que fez suas primeiras experiências artísticas com troncos e árvores mortas. Fotografou e documentou os desmatamentos que aconteciam na região amazônica e no Pantanal Matogrossense. Dessas viagens, recolheu troncos, calcinados, raízes, entre outros materiais que utilizaria em suas obras. Na década de 1970, ficou conhecido internacionalmente por essas esculturas. A partir do ano de 1972, passou a morar no litoral sul da Bahia, na cidade de Nova Viçosa. Foi lá que ele expandiu seu trabalho com a escultura, através da utilização de troncos e raízes para criar suas intervenções.
Entre as décadas de 1980 e 1990, manuseando cipós, caules de palmeiras e raízes - relacionados a pigmentos minerais -, Krajcberg começou a série Africana. Posteriormente, deu início a monumentais entrelaçados de salgueiros, inspirados no artesanato. À época, produziu fotos-reportagens de incêndios, na intenção de conscientizar os proprietários responsáveis pelas queimadas. A mesma experiência, além de resultar na construção de diversas esculturas, deu origem, ainda, ao encontro com Walter Sales, com quem dividiu os trabalhos de filmagens do filme Krajcberg, poeta dos Vestígios.
Nos anos 2000, doou parte de suas obras (pinturas, esculturas, fotografias) à cidade de Paris que, depois inaugurou o Espaço Krajcberg, através do presidente da câmara municipal da cidade, Bertrand Delanoe. No mesmo período, o Brasil também homenageia o artista, criando na cidade de Curitiba o Instituto Frans Krajcberg, que recebeu a doação de mais de uma centena de obras do artista.
Em 2008, recebeu o título de Cidadão Baiano na Assembléia Legislativa. Dois anos depois, em 2010, o governo começa as negociações que dão início ao processo de doação de todo acervo do artista à Bahia, a partir de um projeto que trará aos baianos mais um espaço de grande relevância artística: o Museu Ecológico Frans Krajcberg, com estudo prévio para ser implementado em Salvador.
Além da exposição, as comemorações de aniversário do artista trazem também os lançamentos do catálogo organizado pela DIMUS, com fotos das peças presentes na mostra, e do livro Natureza – uma homenagem do Governo do Estado ao artista -, com textos do poeta Thiago de Mello, do filósofo José Antônio Saja, e da jornalista e pesquisadora Renata Rocha, que está produzindo “O Grito de Krajcberg”, seu primeiro filme/documentário – com lançamento programado para o dia 08 de abril.
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